Educação

UFPel forma mais 50 veterinários sem-terra

Programa já formou 90 profissionais. Graduação da nova turma ocorre às 19h desta sexta-feira

Divulgação -

A noite desta sexta-feira (1º) será de celebração na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mais de cem alunos irão encerrar seus ciclos acadêmicos através da formatura institucional. Entre esses, estão os 50 estudantes da terceira Turma Especial em Medicina Veterinária (TEMV), fruto do convênio entre o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a universidade. O programa já formou 90 médicos veterinários em duas turmas anteriores.

O Pronera foi criado em 1998 pelo governo federal e é uma política pública de Educação do Campo, desenvolvida nas áreas de reforma agrária e executada pelo Incra. O objetivo de criar graduações no âmbito do Programa é para que políticas públicas de educação sejam garantidas e direcionadas às populações jovem e adulta beneficiárias de projetos de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Incra. "Ao mesmo tempo contribui para a implementação de um modelo produtivo centrado na justiça social, economicamente viável e atento às questões ambientais nestas áreas e comunidades", completa o professor e superintendente do campus Capão do Leão da UFPel, Gilberto Vargas.

Sobre os índices de conclusão das turmas, Vargas ressalta os bons números. Nas duas primeiras, cerca de 75% dos acadêmicos concluíram a graduação e na deste ano a porcentagem subiu para mais de 80%, dentro do tempo mínimo, que são cinco anos. "Por tratar-se de um projeto singular, não existe a possibilidade de concluir a graduação em tempo superior ao estipulado no projeto. Dessa forma, seguramente é alcançada uma ótima relação entre o investimento de recursos públicos e a formação superior", explica.

Outro ponto destacado pelo superintendente é a dificuldade no acesso às universidades públicas por esses estudantes. "Para maior parte do público alvo, essa é a única forma de acesso ao Ensino Superior, já que demanda o ingresso e a permanência na universidade, distante da realidade dessas famílias", diz. Por isso, os acadêmicos contam com apoio e projeto pedagógico com algumas particularidades e também a assistência para moradia, transporte e alimentação.

Um sonho realizado
Natan Hermes, de 27 anos, é um dos formandos. Paranaense de Arapongas, o futuro veterinário é filho de assentado e foi criado no assentamento Dorcelina Folador. "Estudei e me desenvolvi na zona rural", conta, orgulhoso, em meio aos últimos preparativos para o grande dia. Ao projeto, Hermes só tem agradecimentos, já que acessar uma universidade era apenas um sonho distante. "Eu não teria condições de entrar numa faculdade federal. Eu trabalhava, precisava sobreviver, e isso dificulta ter um planejamento de estudo", conta. Agora, o desejo de se especializar e conseguir retornar para o assentamento com conhecimento nas costas está cada vez mais próximo. E para os outros anos, só um pedido: "Que as outras turmas venham e conquistem mais espaço ainda".

Letícia Pellenz, 25, também é do Paraná, de Paranacity. "Eu nasci e fui criada já dentro de um assentamento do MST, um assentamento onde a vivência e o trabalho são realizados de forma coletiva. E além do trabalho coletivo também prezamos por uma produção agroecológica com respeito à natureza", resume a formanda. A jovem lembra que soube do processo através dos meios de comunicação do MST e, depois disso, uma série de provas foi realizada. "Fiz um vestibular em duas fases. A primeira eliminatória de responsabilidade somente da universidade e uma segunda com provas específicas de diferentes temas, como questão agrária, agroecologia e biologia básica". Além disso, um memorial escrito e a somatória das duas fases compõem o processo seletivo da turma.

Letícia classifica o programa como de extrema importância para o acesso dessa população no ambiente acadêmico. "É uma ferramenta fundamental para capacitar e profissionalizar pessoas que irão contribuir no desenvolvimento da agricultura familiar e camponesa, impactando na permanência no campo e na produção de alimentos para a sociedade como um todo", complementa.

Movimento para descontinuar a TEMV
No início deste mês, 30 professores do curso de Veterinária escreveram uma carta, se manifestando contrariamente a novas turmas especiais. Um dos trechos diz: "buscando esclarecimentos sobre a continuidade da oferta destas turmas especiais e promovendo uma discussão democrática entre docentes, técnicos, estudantes (principalmente do curso de Medicina Veterinária) e médicos veterinários, levando em consideração sim a necessidade de construir reais oportunidades para estudantes de baixa renda vinculados ao meio rural, sendo eles integrantes ou não de movimentos sociais". Os docentes também alegam que não há estrutura para formar mais uma turma.

Em nota, a gestão da UFPel declara: "sabemos que há aqueles contrários à implementação das políticas afirmativas, mas entendemos que as turmas especiais fazem parte delas e que representam um papel social do qual as universidades públicas são protagonistas". O diretor da Faculdade de Veterinária, Cristiano da Rosa, reconhece a legitimidade da manifestação e conta que, dos três departamentos da Faculdade, apenas um é a favor da continuidade das turmas. "Está deliberado que vamos montar uma comissão e vamos trabalhar juntos - Faculdade e gestão central - para que consigamos, num denominador comum, e sem trazer tantos prejuízos", diz.

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